Os turistas tendem a visitar os lugares mais quentes do continente, que também são as áreas onde há maior probabilidade de as sementes sobreviverem.
Os pesquisadores descobriram que embora muitas das sementes viessem da América do Sul, grande parte delas tinha vindo também do hemisfério norte.
Cerca de 50% tinham sua origem em regiões frias, portanto, provavelmente seriam viáveis nas regiões mais quentes da Antártida.
Os pesquisadores também coletaram evidências de outros cientistas sobre organismos que já se estabeleceram na região.
A Ilha Decepção, 100 km ao noroeste da península, já foi colonizada por duas espécies de grama e duas espécies de animais minúsculos que vivem nas camadas externas do solo e em restos de folhas.
Nas encostas ocidentais da Península Antártica, a espécie de grama Poa annua já se estabeleceu perto de quatro estações de pesquisa - um indício de que teria sido trazida, provavelmente não de forma intencional, por cientistas.
A Poa annua já tomou conta de várias ilhas sub-antárticas.
Futuro Imperfeito
Os pesquisadores sugerem que providências sejam tomadas para controlar as espécies invasoras que já se estabeleceram na região e, na medida do possível, para prevenir a chegada de outras.
Hugues disse ter "erradicado" uma planta sul-americana da família aster que encontrou na Ilha Decepção, ponto de parada de turistas que visitam uma antiga estação de processamento de carne e óleo de baleia.
Segundo o cientista, o método de erradicação foi simples: ele arrancou o único exemplar da planta que encontrou.
Mas quando se trata das espécies mais estabelecidas, os especialistas temem que seja tarde demais.
A vida na Antártida consiste, de maneira geral, de musgos e líquens, às vezes concentrados em torno de aberturas no solo por onde saem gases vulcânicos.
A Associação Internacional das Operadoras de Turismo Antártico (Iaato, na sigla em inglês), que reúne a maioria das empresas que atuam na área, já toma medidas para assegurar que os turistas venham livres de sementes.
Organizações científicas também vêm adotando procedimentos nesse sentido.
"Podemos adotar regulamentos para veículos, assegurar que carga não chegue com sementes e invertebrados, cuidar para que roupas sejam limpas e que tragamos botas novas", disse Hughes.
"Não importa o que façamos, nossos esforços vão apenas reduzir os índices de introdução de espécies, nunca vamos conseguir evitar isso totalmente".
Não existe uma obrigação legal prevista no Tratado Antártico para que espécies alienígenas introduzidas acidentalmente sejam erradicadas.
Mas Steven Chown e sua equipe acham que existe uma obrigação moral de que isso seja feito, e de que a entrada de novas espécies seja bloqueada, tanto quanto possível.
Um fator complicador para a Península Antártica e suas ilhas é que algumas sementes são trazidas no vento que sopra da América do Sul.
Chown argumenta que ainda assim existe uma interferência humana nesse processo, já que as plantas conseguem se estabelecer apenas sob condições climáticas criadas, em grande parte, pelos gases do efeito estufa produzidos pelo homem.
Se nada for feito, ele diz, pequenas porções ainda imaculadas do continente podem, dentro de cem anos, ficar muito parecidas com ilhas sub-antárticas como a Geórgia do Sul, onde plantas alienígenas e animais, particularmente ratos, mudaram dramaticamente a ecologia local.
"A Geórgia do Sul é um grande alerta do que pode acontecer na área nos próximos séculos", disse Chown.
"Minhas suspeitas são de que se você não tomar nenhuma medida de biossegurança, vai acabar ficando com um sistema semelhante a um ambiente com ervas daninhas, ratos, pardais e Poa annua".
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